Desde que começou o arrocho do Ministério do Meio Ambiente para a redução do desmatamento na Amazônia, cuja área caiu de 27 mil km2 em 2004 para 12 mil km2 em 2007, Mato Grosso tem cumprido a sua parte, mas poderia ter feito mais – afirmou a ex-ministra do MMA e atual senadora, Marina Silva, na palestra que proferiu sexta-feira à noite no auditório da Ordem dos Advogados do Brasil diante de um público de mais de 100 pessoas. Saudada pelo presidente da Comissão do Meio Ambiente da OAB, André Luiz Cardozo Santos – que representou o presidente Cláudio Stábile Ribeiro – que em razão de outros compromissos assumidos anteriormente não pôde assistir a palestra, Marina Silva foi aplaudida diversas vezes pela platéia em função de seu posicionamento em defesa do meio ambiente da gigantesca área.
A senadora discorrreeu sobre o tema “Ética e sustentabilidade”, enfatizando que “temos que incorporar uma ética dos valores, que não se confunde com uma ética petrificada em pressupostos do passado e tampouco se confunde com uma ética oportunista, segundo a qual o que não me interessa é anti-ético e o que me beneficia é ético”, o que implicaria na sua relativação, lembrando que a ética deve ser guiada por valores fundamentais como liberdade, justiça e verdade, todos inerentes à condição humana. Ela destacou ainda o importante papel da OAB na defesa desses valores e na transformação da sociedade, quando o Brasil viveu mais de duas décadas sob o regime ditatorial implantado no País em 1964. .
Ao se referir ao trabalho que Mato Grosso vem desenvolvendo para controlar os desmatamentos, Marina Silva manifestou uma grande preocupação com a aprovação, provavelmente ainda no mês em curso, do Zoneamento Socioeconômico e Ecológico do Estado, através de um substitutivo. Lembrou a palestrante que esse projeto vem sendo discutido há 19 anos com a sociedade e não pode ser aprovado num curto período de três meses. A aprovação do Zoneamento Socioeconômico e Ecológico, com as mudanças que foram feitas no projeto original, prevê, inclusive, redução de áreas de preservação ambiental e de reservas indígenas, com a incorporação das sobras das áreas ao processo produtvo. Os defensores do novo ZSEE justificam que o projeto original está defasado e precisa ser adequado.
No decorrer de sua palestra, a ex-ministra lembrou que o processo para redução do desmatamento e de outras agressões ao meio ambiente foi acelerado com o desencadeamento da Operação Curupira em 2005, em Mato Grosso, com a desarticulação de uma e poderosa quadrilha que durante 14 anos vinha devastando grandes áreas, extraindo ilegal e criminosamente madeira. Dezenas de pessoas – funcionários do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama, servidores públicos estaduais, empresários, despachantes, madeireiros, etc. – foram presos pela Curupira. Disse Marina Silva que foi com muita tristeza que acompanhou algumas dessas operações, pois sabia que os cumprimentos de mandados de prisão aquela hora – 5h30, 6 horas... – iam afetar esposas, filhos e vizinhos dos denunciados.
Ao final da palestra Marina Silva foi cumprimentada publicamente pelos procuradores da República José Pedro Taques, de São Paulo, e Mário Lúcio Avelar, de Mato Grosso, além do secretário de Estado do Meio Ambiente – Sema, Luís Henrique Daldegran. Participaram ainda da mesa de honra Valkíria de Carvalho Azevedo, da CMA, o secretário municipal de Meio Ambiente, Archimedes Pereira Lima Neto e o vice-presidente da CMA da OAB, Bathilde Jorge Moraes Abdala.